Afinal não foi Pedro Queiroz Pereira quem mais tramou Ricardo Salgado



Ao que o i averiguou, o contabilista Machado da Cruz - que tinha em seu poder informações exclusivas sobre as contas - terá tido um papel mais decisivo na descoberta das alegadas irregularidades cometidas pelo Grupo Espírito Santo

Quando Pedro Queiroz Pereira entrou no Banco de Portugal (BdP), numa segunda-feira de Outubro de 2013, o que tinha para contar sobre o Grupo Espírito Santo (GES) já não era assim tão surpreendente para o supervisor. Apesar de ter sido sempre olhado como um dos maiores responsáveis pela queda do GES e da família Espírito Santo, ao que o i averiguou, os documentos que levou à sede do supervisor e que denunciavam alegadas irregularidades na Espírito Santo International (ESI) já não eram totalmente desconhecidos do BdP.

Queiroz Pereira terá enviado um pedido de audiência ao supervisor ainda em Setembro de 2013. Mas a maior parte dos problemas terão começado a ser descobertos pelo BdP ainda no Verão. Por essa razão, o supervisor incluiu a ESI na lista dos 12 grandes clientes bancários que iriam a ter as suas contas passadas a pente fino, no âmbito do exercício Ettric 2. Terá sido este o primeiro passo para a descoberta de uma dívida de perto de 7 mil milhões de euros e do buraco de 1300 milhões de euros nas contas daquela holding.

De acordo com informações recolhidas pelo i , as contribuições de Francisco Machado da Cruz, o contabilista responsável pelas contas da ESI no Luxemburgo, terão sido mais determinantes para a descoberta das alegadas irregularidades que estavam a ser cometidas em empresas do Grupo Espírito Santo. O "comissaire aux comptes" era, afinal, o único que tinha as informações sobre as contas de algumas holdings do grupo e sobre a ocultação ou manipulação de passivos. 

Em documentos entregues ao BdP, e já revelados pelo "Expresso", chegou mesmo a deixar claro que Salgado, Manuel Fernando Espírito Santo, José Manuel Espírito Santo e José Castella, controller financeiro do GES, teriam conhecimento de que os valores reflectidos nos relatórios e contas não eram os verdadeiros.

O braço-de-ferro e as trocas de acusações entre Salgado e Queiroz Pereira, aliadas à notícia de que o industrial do papel e do cimento teria entregado um dossiê com uma série de documentos comprometedores no BdP, construíram o mito: o empresário que era um dos maiores inimigos assumidos de Salgado teria dado a machadada final no banqueiro.

As ligações entre o clã Espírito Santo e o clã Queiroz Pereira tinham décadas. Manuel Queiroz Pereira, pai de Pedro, tinha até ajudado a cúpula do GES a reagrupar-se depois das nacionalizações de 1975. Mas nos últimos anos a história de amizade e parceria empresarial entre duas famílias ficou resumida a uma história de traição e de lutas accionistas. No meio da desavença esteve uma alegada disputa pelo grupo Semapa, dono da Secil, Portucel, Soporcel e Inapa. 

Pedro Queiroz Pereira, conhecido pelas iniciais PQP, sentiu-se traído por Salgado nunca lhe ter revelado que quem estava por detrás da sociedade luxemburguesa Mediterranean - que tinha uma posição relevante nas holdings de controlo da Semapa - era o próprio GES. E criou uma convicção: o então líder do BES queria que o Grupo Espírito Santo viesse a mandar no maior grupo industrial português. Queria ou não? Salgado nunca o assumiu. E para o seu lado da guerra trouxe as irmãs de PQP, Margarida e Maude Queiroz Pereira.

A guerra accionista só terminou em Novembro de 2013, depois de no Verão o governador Carlos Costa ter avisado Salgado que era preciso chegar a acordo com Pedro Queiroz Pereira. Até o ex-ministro Eduardo Catroga foi chamado a intervir no consenso. 

Depois de semanas de conversas entre PQP, Catroga, Francisco Cary, vice-presidente do BESI, e Ricardo Abecassis Espírito Santo (então líder do BESI no Brasil), o BES saiu do grupo de Queiroz Pereira e o grupo de Queiroz Pereira saiu do BES. O dono da Semapa abandonou os 7% que detinha na Espírito Santo Control, holding da família Espírito Santo, e o GES deixou a Cimigest e a Sodim, empresas accionistas do grupo Semapa.
Um mês depois, a irmã de PQP, Maude Queiroz Pereira, também vendeu as suas participações na Semapa. O que não se sabia, e que o i revelou em Outubro, é que a irmã do empresário - que passou os últimos anos a interpor acções e providências cautelares acusando o irmão de querer controlar ilegalmente o grupo - terá saído com uma contrapartida: um bónus de 5 milhões de euros pago pelos Espírito Santo. 

A confissão foi feita em reuniões do Conselho Superior do GES, órgão que juntava os principais representantes de cinco ramos da família. Salgado tentou explicar que só assim, com aqueles 5 milhões extra, o grupo conseguiria resolver o velho conflito com o empresário do papel e do cimento.

"Ninguém mais que eu aturou a Maude durante este mês ou o mês passado. (...) A Maude queria seguir em frente e com mais processos porque aquilo é uma espécie de vingança. Ela tem ódio ao irmão e o irmão tem ódio à Maude", disse Ricardo Salgado em Novembro de 2013, tentando convencer a família de que o grupo não sairia prejudicado com a compensação que iria oferecer.

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