Pobreza: Portugal vai demorar «muitos anos» até reparar danos do atual Governo
O economista Carlos Farinha Rodrigues responsabilizou o atual governo pelo agravamento da pobreza em Portugal e alertou que mesmo havendo uma mudança de políticas, o país vai demorar “muitos anos” até conseguir reparar os danos causados.
Em declarações à Lusa, por ocasião do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza e dos Sem-abrigo, que se assinala a 17 de outubro, Carlos Farinha Rodrigues começou por apontar que o país vive “numa situação de forte contenção orçamental”, sublinhando que o corte nas transferências sociais pôs em causa a coesão social.
“Ao descurarmos a coesão social estamos a pôr em causa, não só a situação dos pobres, mas também a qualidade da nossa democracia e da nossa vida em comum”, apontou o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa.
Na opinião do economista, mesmo que haja uma inversão das atuais políticas e mesmo que o atual Governo seja substituído por outro disposto a combater a pobreza e a exclusão social, “vai demorar muitos anos até reparar os danos que ocorreram durante estes três ou quatro anos”.
“As políticas deste governo agravaram claramente a situação, em termos de pobreza”, considerou Farinha Rodrigues, apontando, por outro lado, que esse agravamento “não pode esconder que de há muitos anos a esta parte Portugal é dos países com maior índice de pobreza da Europa”.
Para o professor de economia, a justificação está no modelo económico que Portugal tem aplicado e que está “assente em baixos salários e assente em baixos níveis de qualificação”.
Por outro lado, entende que as próprias políticas sociais refletem uma visão de desresponsabilização do Estado, com a responsabilidade da luta contra a pobreza a ser passada para as instituições sociais.
Da leitura que faz dos dados estatísticos existentes, Farinha Rodrigues não tem dúvidas em afirmar que as crianças têm sido o grupo populacional mais afetado pela pobreza e avança algumas explicações.
“O forte agravamento do desemprego, em segundo lugar a contenção dos rendimentos, cortes nas pensões e salários e um terceiro aspeto, a redução dos apoios sociais, que entre 2010 e 2013 foi particularmente gravosa para as crianças”, defendeu.
Na opinião do economista, os cortes nas prestações sociais atingiram “fortemente os indivíduos mais pobres”, em particular as crianças, e deu como exemplo as alterações feitas à atribuição do Rendimento Social de Inserção, que fizeram com que “o peso das crianças passasse a valer menos”, penalizando mais “as famílias com crianças e em particular as famílias alargadas com crianças”.
“Há claramente um problema que qualquer política séria que vise reduzir com a pobreza em Portugal tem de começar por aí e encontrar medidas para acorrer em primeiro lugar às famílias com crianças”, defendeu, acrescentando que Portugal precisa de uma “estratégia consistente de combate à pobreza”.
Opinião partilhada pelo presidente da Cáritas Portugal, segundo o qual a pobreza infantil está a aumentar na Europa, com Portugal “na linha da frente”.
“Quando falamos de pobreza infantil é preciso ter a noção de que não estamos a falar de uma pobreza isolada de outras, porque uma criança pobre é pobre porque está numa família pobre”, apontou Eugénio Fonseca.
Nesse sentido, defendeu que o combate à pobreza infantil só pode ser feito se forem encontradas respostas que “levem à erradicação da pobreza na sua vertente mais ampla”.
“A pobreza infantil compromete o futuro, porque mesmo que possamos ir resolvendo problemas de carência alimentar, e tem havido um esforço muito grande para que isso aconteça, nós temos que ver e fazer a analogia entre o aumento da pobreza, os níveis de insucesso escolar e de abandono escolar”, alertou.
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