OCDE prevê crescimento mais baixo que o Governo para este ano e o próximo

O secretário-geral da OCDE, Angel Gurria, com Passos Coelho

Oorganização está mais pessimista em relação à recuperação do consumo privado, mas mais optimista em relação às exportações.



Com os portugueses ainda muito endividados, o consumo privado não vai conseguir ser o motor da retoma portuguesa, que será por isso mais lenta do que aquilo que o Governo está a prever, alerta a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).


No relatório sobre Portugal publicado esta segunda feira, a entidade sedeada em Paris apresenta estimativas de crescimento para Portugal durante este ano e o próximo que são mais pessimistas do que as apresentadas pelo Executivo na sua proposta de Orçamento do Estado. A OCDE prevê que a economia cresça 0,8% este ano e 1,3% no próximo. O OE baseia-se num crescimento de 1% em 2014 e de 1,5% em 2015.

As diferenças em relação à variação do PIB são relativamente pequenas, mas é notória uma diferença muito significativa entre aquilo que a OCDE e o Governo pensam acerca do padrão de crescimento que se irá observar na economia portuguesa.

Enquanto o Executivo espera que o consumo privado continue a acelerar em 2015 depois da surpreendente recuperação registada este ano, a OCDE está a apontar para o regresso do consumo a taxas de crescimento muito modesta já no próximo ano. No relatório publicado esta segunda-feira, os técnicos da OCDE estimam uma variação de 1,5% do consumo privado este ano e de 0,5% no próximo. Do lado do Governo, aponta-se para um crescimento de 1,8% em 2014 e de 2% em 2015. De igual modo, a OCDE prevê uma contracção maior do consumo público que o Governo.

O relatório explica as razões desta previsão bastante mais modesta para o consumo, tanto público como privado: “A continuação da necessária consolidação orçamental, os níveis elevados de endividamento no sector privado e o desemprego alto vão limitar a procura doméstica”.

Isto significa que, para a OCDE, aquilo que aconteceu na primeira metade de 2014, em que o consumo privado recuperou e sustentou uma parte significativa do crescimento do PIB português, não se continuará a verificar nos próximos anos.

A compensar esta visão pessimista do contributo do consumo, a OCDE é contudo mais optimista em relação a outros indicadores. Prevê que as exportações cresçam 5,4% em 2015, superando a variação de apenas 3% nas importações. O Governo está bastante menos confiante num contributo tão positivo da procura externa líquida (exportações menos importações) e prevê que as exportações cresçam 4,7%, contra 4,4% nas importações.

Em relação às importações, a diferença de previsões está relacionada com a forma como OCDE e Governo vêem o consumo a evoluir. Mas no que diz respeito às exportações, o Governo, embora esteja a ser criticado por muitos analistas por ser demasiado optimista, acaba por ser mais prudente que a OCDE nas suas expectativas em relação à procura externa direccionada ao país.

E, de facto, o recente abrandamento da economia europeia, com países como a Alemanha e a França a revelarem fragilidades no crescimento, torna mais difícil a vida às empresas exportadoras portuguesas.

O que será então que leva a OCDE a apresentar projecções tão favoráveis para as exportações portuguesas. No relatório, a explicação não é óbvia. O que é dito é que, perante o cenário de endividamento elevado, o único caminho que a economia portuguesa pode seguir é o de aumentar o investimento no sector exportador e, consequentemente, vender mais bens e serviços ao estrangeiro. “Perante um cenário de necessidade de mais investimento e a precisar também de reduzir a dívida externa, um aumento sustentado das exportações será a chave para criar mais empregos e promover a inclusão social”, afirma a OCDE.

Para que o crescimento das exportações seja possível, os técnicos da OCDE deixam ainda algumas recomendações. Aumentar a concorrência nos sectores dos bens não-transaccionáveis como a energia, garantir que a negociação salarial seja feita ao nível de cada empresa evitando a extensão da contratação colectiva e melhorar a ligação entre as universidades e as empresas são apresentadas como as soluções para as exportações crescerem mais do que já têm crescido.

O risco da deflação
A OCDE alerta que as previsões de crescimento por si apresentadas têm riscos. Mas estes não estão nas exportações. A maior preocupação está virada para  o perigo de deflação.

O relatório afirma que “com a inflação a entrar em terreno negativo desde o início de 2014, existe o risco de a deflação se tornar mais persistente, num contexto de inflação baixa na zona euro”.

 “Isto pode fazer descarrilar a retoma e tornar a redução de dívida mais difícil”, avisa. A OCDE está particularmente preocupada com o efeito que uma descida de preços prolongada teria no sector empresarial, que está muito endividado e onde “mais de 40% das firmas com empréstimos bancários não são capazes de fazer face ao seu serviço de dívida com os seus rendimentos operacionais”.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Como Fazer Chá de Hortelã – Receita e Dicas

20 Alimentos que Melhoram a Circulação Sanguínea

TGO e TGP Altos – O Que Significa