Cheias em Lisboa: novas pedras no caminho de Costa

Pedras da calçada foram arrastadas com a força da água para a Avenida da Liberdade, em Lisboa, devido à forte chuva que caiu durante a tarde
Pedras da calçada foram arrastadas com a força da água para a Avenida da Liberdade, em Lisboa, devido à forte chuva que caiu durante a tarde
Ao contrário das inundações de há três semanas, o executivo de Lisboa remeteu-se esta segunda-feira ao silêncio. Na oposição aproveita-se a maré e há uma onda de críticas a António Costa.
Autarca escaldado de água da chuva tem medo - é aforismo popular adaptado que se adequa à situação vivida na tarde desta segunda-feira em Lisboa. A Câmara escusou-se a fazer qualquer comentário sobre as inundações, em que algumas da imagens captadas em vários pontos da cidade - de Alcântara à Calçada de Carriche, dos túneis de Entrecampos e da João XXI à Baixa - dão um quadro ainda mais caótico do que o vivido a 22 de setembro.
Fonte do executivo municipal, a quem o Expresso pediu um comentário à situação, remeteu todas as explicações e informações para o comandante do Regimento dos Sapadores Bombeiros.
Uma estratégia contrastante com a seguida há três semanas, quando o vereador responsável pela Proteção Civil, Carlos Castro, atribuiu uma falta de resposta atempada dos serviços da autarquia a um alegado atraso do Instituto Português do Mar e das Atmosfera (IPMA) na emissão do aviso do mau tempo .

Sei o que disseste a 22 de setembro"Houve uma grande precipitação. As informações que nós tínhamos do IPMA não iam nesse sentido, portanto a cidade teve de se prevenir à última da hora, uma vez que não tinha sido lançado aviso laranja para o distrito de Lisboa", disse então Carlos Castro, numa conferência de imprensa em que tinha a seu lado a estrutura de comando dos Sapadores Bombeiros.



Responsáveis do IPMA contestaram na altura aquela afirmação, tendo no dia seguinte o vereador feito marcha-atrás:"Não acusei, não me queixei, nem desconsiderei os serviços (...). O que interessa é que a resposta dada pelo Regimento dos Sapadores Bombeiros, a Proteção Civil, os bombeiros voluntários e as juntas de freguesia foi notável", afirmou depois Carlos Castro numa reunião da assembleia municipal.
O facto de as maiores chuvadas terem coincidido com a maré-cheia foi um ponto destacado pelo autarca, que ajudaria a explicar uma cidade alagada em muitos sítios.
Curiosamente, esta terça-feira terá lugar nova reunião da assembleia municipal, inteiramente dedicada ao "estado da cidade". Se sobre a sessão já havia expectativa (em princípio será a última vez que António Costa prestará contas aos deputados municipais, em momento especificamente dedicado ao efeito), agora elas tornam-se maiores.
Saraivada de críticas da oposição
A oposição na Câmara de Lisboa responsabiliza o executivo liderado por António Costa pela situação vivida, embora o faça com vagas de intensidade variável.

O mais contundente é o PSD. O vereador António Prôa acusa diretamente Costa: "Um presidente da Câmara que continua a não dar a cara e a estar presente junto dos problemas da cidade".
Particularmente visado por Prôa é também o vereador da Proteção Civil: "Desta vez, a maré estava longe de estar cheia. Desta vez, o aviso laranja foi anunciado com antecedência. Desta vez não é possível atribuir culpas nem à maré nem aos meteorologistas", diz António Prôa, para rematar: "Desta vez não apareceu nenhum vereador para fazer declarações precipitadas".
Em relação às causas das inundações, o eleito social-democrata elenca "problemas de obstrução de sarjetas, sumidouros e coletores", entre outros aspetos pontuais, para culminar na questão central: a falta do plano de drenagem para Lisboa, "pronto desde 2007" e "ainda por implementar".
A falta do plano de drenagem, e a necessidade urgente da sua realização - "para evitar que situações como estas se voltem a repetir", diz o vereador comunista Carlos Moura -, é igualmente mencionada pela CDU.
Carlos Moura salienta a "grande responsabilidade" do atual executivo na situação atual. "Com uma cidade cada vez mais impermeabilizada, a tendência é para as coisas Se agravarem", adverte.
Reservatórios para travar as águas

O plano de drenagem implica a construção, em vários pontos da cidade, de bacias de retenção. Isso permitirá que, em tardes como a desta segunda-feira, "a água fique retida durante mais tempo, até que seja escoada pela canalização", explica o vereador da CDU.

Das palavras do vereador do CDS/PP, João Gonçalves Pereira, pingam igualmente críticas, mas são gotas menos grossas, se comparadas com as de outra oposição. "Situações como as desta segunda-feira ocorrerão cada vez que houver uma maior chuvada, pelo que se justifica a execução do plano de drenagem. A Câmara, por si só, não é responsável pelo efeito das chuvas", afirma.

Para Gonçalves Pereira, o plano, orçado em 153 milhões de euros, será a "solução macro para o problemas das cheias, e que terá um impacto na minimização dos problemas micro" (como uma deficiente manutenção das sarjetas, por exemplo). 
"É uma questão de vontade política", diz João Gonçalves Pereira. "Sem o plano de drenagem, a cidade fica como esta segunda-feira: paralisada".
Esta terça-feira, ao início da tarde, já as águas terão assentado (se São Pedro ajudar). Mas com as imagens - carros a boiar, tampas de esgotos a saltar, lojas inundadas e pessoas a quem nem as galochas podiam valer - ainda bem presentes na retina, na assembleia municipal de Lisboa as vagas deverão ser bem alterosas.




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