Fósseis de salamandra gigante descobertos no Algarve
Fósseis de salamandra gigante descobertos no Algarve: Uma equipa internacional de cientistas que inclui um português encontrou anfíbio gigante do tempo dos dinossauros
Os fósseis de uma nova espécie de anfíbio foram descobertos no Algarve por uma equipa internacional de cientistas que inclui o paleontólogo português Octávio Mateus, um conhecido "caçador" de dinossauros.
O anfíbio, uma salamandra gigante, viveu durante a ascensão dos dinossauros e foi um dos maiores predadores da Terra há cerca de 228 milhões de anos, durante o Período Triásico.
O animal recebeu um nome, "Metoposaurus algarvensis", dedicado à região onde foi descoberto, depois de os cientistas encontrarem os ossos fossilizados de vários animais nas rochas de um antigo lago do tempo dos dinossauros, no concelho de Loulé, que terá secado devido a alterações climáticas.
Esqueletos muito bem conservados
"Foi uma surpresa para nós, em especial pela riqueza, diversidade e qualidade dos fósseis naquele local", conta Octávio Mateus ao Expresso, acrescentando que "foram encontrados numerosos esqueletos muito bem conservados e com os ossos articulados, com anatomia única, o que significa que são uma nova espécie".
Por outro lado, "esta descoberta é o exemplo de um achado de uma época da qual conhecemos muito pouco em Portugal, o Período Triásico, há cerca de 200 milhões de anos, altura em que viveram alguns dos primeiros dinossauros".
Além deste paleontólogo, que é professor e investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e colaborador do Museu da Lourinhã, a descoberta envolveu também cientistas das universidades de Edimburgo e de Birmingham (Reino Unido) e do Museu de História Natural de Paris.
Dois metros de comprimento
Os anfíbios assemelham-se a salamandras gigantes e chegam a ter dois metros de comprimento, tendo vivido em lagos e rios de forma semelhante aos crocodilos.
Os paleontólogos calculam que pesassem cerca de 100 quilos, mas são parentes distantes das salamandras actuais e faziam parte do grupo ancestral do qual anfíbios modernos como sapos e salamandras evoluíram.
A descoberta revela que a distribuição geográfica deste grupo de animais era maior do que se pensava. Restos fósseis destes anfíbios foram encontrados em África, Europa e América do Norte, mas as diferenças na estrutura do crânio e mandíbula dos fósseis encontrados em Portugal revelaram que estes pertenciam de facto a uma nova espécie.
Esta espécie foi descoberta numa camada repleta de ossos onde dezenas de animais podem ter morrido quando o lago onde viviam secou.
Extinção em massa há 200 milhões de anos
A maioria deste tipo de grandes anfíbios foi exterminada durante uma extinção em massa que ocorreu há 200 milhões anos, muito antes da morte dos dinossauros. Isto marcou o fim do Período Triásico, quando o supercontinente Pangeia, que integrava todos os atuais continentes da Terra, se começou a dividir.
O estudo sobre a descoberta da salamandra gigante acaba de ser publicado no "Journal of Vertebrate Paleontology".
As escavações no Algarve decorreram com estudantes de paleontologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, sendo a preparação laboratorial dos fósseis feita no Museu da Lourinhã. Octávio Mateus já participou na descoberta de mais de 20 novas espécies de dinossauros.
Steve Brusatte, investigador da Universidade de Edimburgo e primeiro autor do estudo, afirma que "este novo anfíbio parece algo saído de um filme de monstros. Era tão comprido como um pequeno carro e tinha centenas de dentes afiados na sua grande cabeça chata, que se parece com uma tampa de sanita. Este era o tipo de predador feroz que os primeiros dinossauros tinham de enfrentar, muito antes dos dias de glória do "T. rex" e do "Brachiosaurus"".
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