Obama vai à Índia conquistar um aliado no grande jogo asiático


Houve quem não entendesse nem o convite nem a resposta — o Presidente dos EUA aceitou ir à celebração do Dia da República. Dá trunfos a Modi, mas também espera algo em troca. Os resultados podem não se ver imediatamente — "os cálculos foram claramente feitos para o longo prazo".

Barack Obama — fez saber a Casa Branca — ficou perplexo. Acabava de ser convidado para o Dia da República indiana, a celebração da entrada em vigor da Constituição, a 26 de Janeiro de 1950. A data não era favorável, mas a equipa deu um jeito — antecipou o Estado da União, que estava inicialmente agendado para o fim do mês, adiou por uns dias as viagens pelo país que os presidentes fazem sempre depois de proferir o discurso, e Obama aceitou o convite.


Quando aterrar, neste domingo, em Nova Deli, torna-se o primeiro Presidente dos EUA a visitar por duas vezes a Índia e o primeiro a ser o convidado de honra do Dia da República.

"Para o primeiro-ministro [da Índia, Narendra Modi], a visita [de Obama] é um duplo golpe: político e diplomático. 

Dá impulso às relações EUA-Índia, eleva Modi à condição de líder global a ter em conta e ajuda o primeiro-ministro a ajustar a sua visão política de uma forma que faça sentido para si mas também para o seu partido", lê-se numa análise publicada em The Wall Street Journal. 

Mas foram muitas as críticas feitas a Obama por ter optado por sair do país apenas três dias depois do discurso sobre o Estado da União, quando apresentou uma agenda legislativa ambiciosa que, disseram os comentadores, deveria estar a defender, sobretudo agora que todo o Congresso é dominado pela oposição republicana.

Num debate na estação de televisão CNN, em que o tom das intervenções sugeria que o Presidente dos EUA fugira de casa por saber que fez um discurso inconsequente, a jornalista Julie Pace, da Associated Press, disse que Obama embarcou numa "viagem não essencial". 

"Basicamente, ele vai à Índia assistir a uma parada e visitar o Taj Mahal", disse Pace, omitindo que, nas semanas que antecederam o discurso, Obama viajou por vários estados a divulgar as suas propostas legislativas e que retomará o programa assim que regressar da Índia. 

A visita ao Taj Mahal foi, entretanto, cancelada para Obama partir mais cedo e parar, no caminho de regresso, na Arábia Saudita, para dar condolências pela morte do rei Abdullah e cumprimentar o novo monarca, Salman.

Na Índia, o convite a Obama — e tudo o que isso provoca, como as exigências de segurança dos americanos, uma vez que o Presidente dos EUA vai estar várias horas parado no mesmo local — também motivou críticas. Modi, escreveram jornalistas e comentadores (no The Times of India, por exemplo), convidou um Presidente moribundo — uma carta já fora do baralho e não um chefe de Estado todo-poderoso.

O objectivo maior
Os que não percebem a razão deste convite de Modi e desta viagem de Obama, defende o Wall Street Journal, não estão a ver o que está em causa — "não estão a ver o objectivo maior".

A celebração do Dia da República tem a forma de uma demorada parada militar em que a Índia mostra o seu arsenal bélico. E Obama não vai estar só a vê-lo, é como se também estivesse a mostrá-lo, ao lado do seu anfitrião, Modi. A mostrá-lo aos países com quem os EUA e a Índia têm relações mais agrestes, como a China e o Paquistão; a mostrá-lo aos países que já são aliados ou que são futuros parceiros, como o Japão.

Do ponto de vista simbólico, ambos os países ganham com esta visita. Mas que mais se deve esperar dela, além dos perto de dez acordos que deverão ser assinados em áreas tão distintas quanto a tecnologia, o ambiente e a defesa?

A presença de Obama no Dia da República não revolucionará, da noite para o dia, a relação EUA-Índia, distantes durante as décadas da Guerra Fria devido ao alinhamento de Nova Deli com o mundo soviético, orientação que começou a mudar depois do colapso da URSS.

 Uma nova era prometia eclodir no fim dos anos 10 do século XXI, quando o então Presidente norte-americano, George W. Bush, de visita a Nova Deli, disse que no novo século a Índia era "um parceiro natural dos Estados Unidos". 

Acordos de cooperação e comércio cresceram, mas a ancoragem da política externa americana à Ásia não se concretizou com Bush, como não se concretizou depois de Obama (tomou posse em 2009) a ter anunciado — o novo inquilino da Casa Branca ficou preso aos compromissos com o seu espaço tradicional no Ocidente e Médio Oriente, em convulsão política, financeira e bélica.

A apenas dois anos de terminar o seu segundo e último mandato e sem ter nada a perder — depois de os eleitores terem posto o Senado e a Câmara de Representantes nas mãos da oposição republicana —, Obama diz que não desiste de fazer o que pensa ser o melhor para os EUA e para o mundo e insiste na sua visão geoestratégica. 

Se este é o século da Ásia, é nela que os Estados Unidos devem estar. E quem melhor para ser um grande aliado regional se não a Índia, o país que contém um sexto da população mundial e que tem todas as condições para dar o grande salto de desenvolvimento económico e político, tornando-se uma força global e o motor que equilibrará a ascensão da China?


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