Líderes Mundiais Envolvidos Em Escândalo De Corrupção
Líderes Mundiais Envolvidos Em Escândalo De Corrupção-Fuga de informação numa grande empresa ligada a offshores considerado o mais importante dos casos da WikiLeaks.
Chamam-se Panama Papers e, segundo o Consórcio Internacional deJornalistasde Investigação, que divulgou neste domingo a investigação através dos jornais a ele associados, representam “uma das maiores fugas de informação de sempre”.
Em causa está a utilização de regimes fiscais de excepção por parte de algumas das figuras mais poderosas do mundo. Os documentos foram obtidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung, a partir de uma fonte anónima.
Em Portugal, o Expresso participou no processo de investigação jornalística, mas não refere eventuais ligações a Portugal.
É um “pandemónio offshore”, diz o Guardian, explicando que há informações sobre “bens pertencentes a 12 líderes políticos, incluindo os da Rússia – Vladimir Putin e o seu círculo próximo são os principais visados – Islândia, Paquistão e Ucrânia.
O escândalo envolve ainda “empresas ligadas a mais de 140 altos dirigentes políticos, amigos e familiares, e a 22 pessoas sujeitas a sanções por apoiarem regimes na Coreia do Norte, Síria, Rússia e Zimbabué”. E bens que resultam de roubos, além de “arte escondida em colecções privadas”.
Existem 11,5 milhões de documentos provenientes da base de dados da empresa Mossack Fonseca, baseada no Panamá, o que representa uma quantidade de informação superior à que o WikiLeaks revelou em 2010, assim como aos documentos de serviços secretos fornecidos a jornalistas por Edward Snowden em 2013. A Mossack Fonseca administra empresas offshore e faz gestão de fortunas.
Segundo o Guardian, os documentos mostram “o enorme número de pessoas que usam offshorespara proteger as suas fortunas”. Não é ilegal fazê-lo, sublinha o jornal, mas “as vantagens financeiras que estas estruturas disponibilizam não estão habitualmente ao dispor dos contribuintes normais”.
Apesar de o nome do Presidente russo não aparecer em nenhum dos documentos, o Guardian afirma que existe “uma rede de negócios secretos ligados a offshores e empréstimos no valor de dois mil milhões de dólares que desenham um rasto que conduz a Vladimir Putin”. Este dinheiro “criou fortunas fabulosas para membros do círculo mais próximo” do Presidente russo.
Uma das figuras principais no centro do escândalo é Sergei Roldugin, descrito como “o melhor amigo de Putin”. Foi Roldugin que apresentou ao líder russo à sua actual mulher, Lyudmila, e é ele o padrinho da filha mais velha de Putin, Maria. Este homem, prossegue o diário britânico, “aparentemente acumulou uma fortuna” e controla uma série de bens num valor calculado de “pelo menos 100 milhões de dólares”.
O que os documentos da Mossack Fonseca mostram é que este amigo, de perfil muito discreto, tem 12,5% da maior empresa de publicidade para televisão na Rússia, a Video International, para além de percentagens de outras empresas, entre as quais a Kamaz, fabricante de veículos militares, e o Banco Rossiya, um banco privado russo.
Os negócios offshore do Rossiya estão “rodeados por camadas de secretismo”, de tal forma que todas as instruções que partiam do banco em São Petersburgo eram enviadas através de um “intermediário confidencial”, uma firma de advogados em Zurique.
Eram estes que contactavam a Mossack Fonseca que, por seu lado, criava empresas, geralmente registadas nas Ilhas Virgens britânicas, com directores falsos que assinavam os contratos para os negócios. O Guardian revela que mesmo os registos confidenciais da Mossack são, muitas vezes, mais uma camada de protecção para evitar qualquer risco de se chegar aos verdadeiros donos das fortunas.
Os documentos envolvem o Presidente da China, o Presidente da Ucrânia, o primeiro-ministro da Islândia, o rei da Arábia Saudita, os filhos do Presidente do Azerbaijão e o pai do primeiro-ministro britânico, David Cameron (que entretanto morreu).
O número de políticos envolvidos ascende a um total de 128. O primeiro-ministro islandês, Sigmundur Davíð Gunnlaugsson, terá um início de semana complicado: os seus opositores já começaram a exigir eleições antecipadas.
Há ainda, e pelo menos, 33 nomes de pessoas ou entidades que estão na “lista negra” dos EUA por negociarem com organizações terroristas, de tráfico de droga ou de Estados como o Irão e a Coreia do Norte.
Implicações na Lava Jato
A Mossack Fonseca operou até recentemente na obscuridade. Mas, em Janeiro, começou a ser alvo de escrutínio de dois países – Alemanha e Brasil.
Os procuradores brasileiros, que qualificaram a como uma “grande branqueadora de capitais”, ligaram a empresa à megaoperação Lava Jato e anunciaram que cinco elementos do escritório da Mossack Fonseca no Brasil seriam formalmente acusados pela participação no esquema de corrupção.
Os 11,5 milhões de documentos – com uma quantidade massiva de informação (2,6 terabytes) – dizem respeito a um longo período de tempo: desde os anos 1970 até agora, 2016.
Se a ligação entre a firma e a Lava Jato se confirmar, a cúpula política brasileira pode sofrer mais um abanão – em particular o Partido dos Trabalhadores da Presidente Dilma Rousseff.
No Brasil, os documentos foram analisados pelo portal UOL, o jornal O Estado de S. Paulo e a Rede TV, que identificaram pelo menos 107 empresasoffshore ligadas a personagens da Lava Jato. Estas empresas não são referidas no megaprocesso gerido pelo juiz Sérgio Moro. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é citado nos documentos.
De resto, há pelo menos seis grandes empresas e famílias envolvidas na Lava Jato que negociaram com a Mossack Fonseca, escreve o UOL: a construtora Odebrecht e as famílias Mendes Júnior, Schahin, Queiroz Galvão, Feffer (grupo Suzano) e Walter Faria (grupo Petrópolis).
O diário francês Le Monde, outro dos jornais envolvidos na investigação, explicou por seu lado como durante um ano 378 jornalistas de 107 meios de comunicação espalhados por 77 países trabalharam sobre estes Panama Papers, que incluem registos, documentos oficiais, passaportes, contratos e correspondência interna das mais de 214 mil estruturas offshore criadas ou administradas pela Mossack Fonseca.
O Süddeutzsche Zeitung não revelou aos outros jornais ligados à investigação a identidade da sua fonte, para a proteger, mas tanto o Le Monde como o The Guardian asseguram que a autenticidade dos ficheiros agora revelados foi confirmada.
Parte destes Panama Papers, diz ainda o diário francês, tinha já sido vendida às autoridades fiscais alemãs, americanas e britânicas ao longo dos últimos anos, o que levou a investigações oficiais a bancos alemães suspeitos de serem cúmplices em crimes de branqueamento de capitais e fraude fiscal.
Novo escândalo na FIFA
É mais um rombo na credibilidade já muito frágil da FIFA. Na sequência das revelações feitas no âmbito dos Panama Papers, ficou ainda a saber-se que no interior da Comissão de Ética, organismo criado para extirpar da FIFA a corrupção que tem minado aquela instituição, um dos seus elementos tem ligações íntimas com um dos antigos dirigentes, entretanto detido.
Os documentos agora revelados – do escritório de advogados Mossack Fonseca, que ajudava os seus clientes a criar empresas em offshores – revelam que as ligações entre Juan Pedro Damiani, um advogado uruguaio que trabalha há bastante tempo na Comissão de Ética, e Eugenio Figueredo, um antigo vice-presidente da FIFA, recentemente acusado de corrupção, são muito mais intensas do que inicialmente se pensava.
A Comissão de Ética da FIFA anunciou, entretanto, ter aberto uma investigação, sublinhando que desconhecia as relações de negócios existentes entre Damiani e Figueredo até ao momento em que aquele enviou um e-mail informando o presidente Hans-Joachim Eckert, no dia 18 de Março, e já depois de ter sido confrontado com os documentos que constam nos Panama Papers.
No e-mail que enviou a Eckert, Damiani diz que mantém uma relação profissional com Figueredo desde 2007 – embora documentos analisados pelo Guardian sugiram que ela é anterior a esta data.
Figueredo foi um dos homens detidos em Zurique no ano passado e está acusado de estar envolvido num escândalo de corrupção enquanto dirigente da FIFA que pode atingir os 96 milhões de euros.
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