Maria Luís recusou adiantar dinheiro ao BES
Vítor Bento conta a conversa com a ministra das Finanças no dia 30 de julho. E não coincide com o que Maria Luís tinha contado.
Vítor Bento relatou esta terça-feira a conversa que teve com a ministra das Finanças no dia 30 de julho, dois dias antes da decisão de avançar para a resolução do BES, separando em banco bom e banco mau.
De acordo com o então CEO do Banco Espírito Santo, o encontro com Maria Luís Albuquerque serviu para saber se o Governo estaria disposto a adiantar um financiamento provisório ao banco, para superar a fase mais difícil do impacto da divulgação das contas do primeiro semestre. No plano adiantado por Vítor Bento, essa verba seria depois substituída por capital privado. Mas a ministra recusou.
Segundo Vítor Bento, quando foi ao Ministério das Finanças com os administradores José Honório e Moreira Rato, a intenção era saber "se haveria disponibilidade do Governo para assumir publicamente que funcionaria como backstop de capital", e se haveria "possibilidade de fazer um financiamento intermédio que fosse reversível com capital privado". Ou seja, o Governo garantir publicamente que, em último recurso, assumiria o financiamento ao banco, mesmo que como mecanismo transitório.
A resposta da governante, segundo Bento, foi negativa: "O Governo entendia que uma declaração dessa natureza poderia ser contraproducente e afastar investidores privados". Por essa razão, "não mostrou disponibilidade". Mais: "Não pareceu que, do ponto de vista político, a disponibilidade para envolver dinheiros públicos fosse muito grande", afirmou o ex-presidente do BES perante os deputados.
Não houve pedido... mas houve recusa
Ou seja, Vitor Bento não escondeu que o Governo tomou uma decisão política de não entrar com dinheiro no BES, ainda que de forma transitória, e como uma espécie de adiantamento.
"Não foi feito obviamente nenhum pedido", ressalvou Bento, pois "naquela altura não tinha legitimidade para fazer qualquer pedido, pois teria de ser aprovado pelos órgãos próprios do banco". Mas que houve uma recusa da ministra, segundo o economista, houve mesmo.
Isto apesar dos cuidados com que Bento foi introduzindo cada vez mais nuances no seu relato: "Eu nunca tive uma resposta não porque nunca fiz uma pergunta assertiva de sim ou não. Tentei avaliar as condições em que poderia ter uma resposta se tivesse de pedir"... Mas não pediu... Mas percebeu bem qual seria a resposta se pedisse com as letras todas: "Seria difícil..."
Foram notórias as pinças com que Bento abordou o assunto. Ainda assim, a versão do mesmo encontro, contada por Maria Luís Albuquerque quando esteve na comissão parlamentar de inquérito no dia 19, é diferente. De acordo com a governante, a conversa teria sido diferente.
"O que o doutor Vítor Bento me perguntou foi se seria possível o Estado intervir na mesma modalidade que tinha sido usada pelo Estado no Banif", disse a ministra.
"Expliquei que essa modalidade, nesses termos, não existia enquanto tal. Continuava a ser possível a utilização desse tipo de instrumentos mas as regras de auxílio do Estado [europeias] implicam que os accionistas percam tudo".
Sobre o modelo transitório referido por Vítor Bento, nem uma palavra.
Seria contraproducente? Bento achava que não
Maria Mortágua, do BE, quis saber se, na opinião de Bento, o argumento de Maria Luís, de que um papel de garantia do Estado assustaria os potenciais investidores e poderia ser, de facto, contraproducente.
Resposta: "Na altura, a preocupação maior que eu tinha era que os vários intervenientes necessários se manteriam tranquilos durante o processo de recapitalização com garantia de que, fossem quais fossem, as circunstâncias, não faltaria capital."
Para isso serviria o respaldo do Estado, e não para o efeito contrário. Mas, alegou Bento, dar opinião sobre o argumento da ministra seria "confrontar subjetividade com subjectividade". Coisa que, disse, "não tem qualquer utilidade".
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