Dois polícias morrem colhidos por comboio quando perseguiam suspeitos de assalto

Dois Agentes de 23 e 26 anos corriam atrás dos suspeitos quando foram colhidos junto ao apeadeiro de Sacavém-Loures por um Intercidades que na zona atinge 200km/h. Presidente da AR diz que "morreram como heróis".

Dois agentes da PSP foram na manhã desta quarta-feira colhidos mortalmente por um comboio Intercidades junto ao apeadeiro de Sacavém-Loures. Os polícias corriam pela linha férrea atrás de dois suspeitos de um assalto, para o qual foram alertados, quando o acidente aconteceu.

Naquela zona, adiantou fonte oficial da CP ao PÚBLICO, o comboio Intercidades, que passou pelas 11h30, e que partira de Lisboa em direcção ao Porto, atinge normalmente os 200 km/h.

Um dos agentes que morreu estava ainda há pouco tempo ao serviço da polícia. Ricardo Santos, de 23 anos, estava há pouco mais de um ano na PSP, depois de ter entrado na polícia no último curso de admissão que terminou no final de 2013. Já João Rainho trabalhava na PSP há mais de três anos, apurou o PÚBLICO junto de fontes policiais.

“Morreram como heróis por todos nós! Deixam-nos uma memória de abnegação, um exemplo de entrega sem limite. São eles e outros como eles que nos dão a garantia do Estado de Direito, da força das leis e da justiça. A nossa gratidão é imensa, tão imensa como a nossa tristeza”, afirmou a presidente da Assembleia da República (AR), Assunção Esteves, numa “mensagem de condolências pela morte dos agentes João Carlos Lopes Rainho e Ricardo Filipe Lopes Santos”.

Os dois homens, polícias patrulheiros da esquadra de São João da Talha, em Loures foram mobilizados para aquela zona juntamente com outros quatro colegas que seguiam noutros dois carros da PSP para acorrerem a um assalto numa casa na zona da Bobadela.

 À chegada, recolheram informação de que dois suspeitos teriam fugido para perto da estação de caminhos-de-ferro da Bobadela. Largaram por isso o carro patrulha e dirigiram-se para essa zona onde começaram a perseguição a pé.

Corriam atrás dos dois suspeitos pela linha de comboio quando o barulho das carruagens os terá alertado para a proximidade do comboio. Ainda terão tentado, sem sucesso, desviar-se do comboio que circulava a alta velocidade, porém, a deslocação de ar gerada pela passagem do comboio tê-los-á puxado em direcção à composição, adiantou fonte policial.

Um de dois outros agentes da PSP que seguiam mais atrás conseguiu salva-se porque se terá agarrado a um dos postes que sustentam os cabos eléctricos ao longo da linha férrea. Foi esse agente que com outro colega conseguiu depois deter os dois suspeitos já num canavial junto à linha do comboio.

O INEM foi chamado pelas 11h54. Para o local seguiu uma viatura médica de emergência e reanimação e duas ambulâncias dos Bombeiros Voluntários de Sacavém, mas já pouco poderia fazer. Fonte oficial daquele instituto confirmou ao PÚBLICO que os agentes morreram logo após o choque com o comboio.

O INEM enviou também uma Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência.

Suspeitos já tinham fugido antes à polícia

O intendente Jorge Maurício, comandante do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa, leu já na tarde desta quarta-feira um comunicado esclarecendo que três equipas, cada uma com dois agentes, estiveram envolvidas na acção policial. De acordo com o oficial da PSP, os dois suspeitos já tinham "vários antecedentes criminais", inclusive uma anterior fuga às autoridades.

“Após ter sido desencadeada perseguição, dois polícias movimentaram-se para as imediações da linha de comboio, perto da estação de Sacavém, por haver notícia de ai se encontrar um dos assaltantes em fuga apeada junto à linha. À passagem de um comboio os dois agentes foram colhidos tendo vindo a falecer no local”, relatou o intendente.

Os detidos de 17 e 20 anos estavam já referenciados por roubos e furtos anteriores e vão ser ouvidos por um juiz de instrução criminal esta quinta-feira de manhã, informou a PSP em comunicado. Só então saberão as medidas de coacção a que ficaram sujeitos enquanto aguardam julgamento.

Na esquadra de São João da Talha, onde trabalhavam as vítimas, estão na tarde desta quarta-feira psicólogos do INEM e da PSP a dar apoio a outros polícias, colegas dos agentes que morreram e aos familiares das vítimas que entretanto chegaram. Na esquadra, os agentes da PSP depositaram flores junto aos chapéus de serviço das vítimas que foram colocados nos bancos de espera à entrada do edifício.

"Há um ambiente de grande consternação na esquadra. Os colegas ainda não acreditam que isto aconteceu e precisam de conseguir lidar com isto", disse António Ramos, vice-presidente da assembleia Geral do Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP), que se deslocou à esquadra após o acidente.